29 setembro 2012

As coisas são como são

"Nessa noite levaram-me a cear ao Leão. Tenho ainda a memória dos bifes no paladar da saudade - bifes, sei ou suponho, como hoje ninguém faz ou eu não como."

Bernardo Soares in Livro do Desassossego

Talvez  esteja para chegar o tempo em que não teremos senão a memória dos bifes, meu caro Ruben Patrick. Resistiremos, outros tempos virão e havemos de nos orgulhar por não ter esquecido os bifes em definitivo, havemos de os perpetuar até onde nos for possível no paladar da saudade, não nos vergaremos a paladares provisórios, em verdade te digo, Ruben Patrick, enquanto tivermos a vertigem de Zermatt nas nossas memórias não nos satisfaremos com Sierra Nevada, enquanto não olvidarmos a que sabe Old Bushmills acompanhando Faulkner não nos conformaremos com Macieira e Paulo Coelho, enquanto  nos lembrarmos do por do sol na Comporta e das manhãs em Sintra não acharemos de valor as tardes em Carcavelos ou as manhãs em Odivelas, havemos de ter a memória dos bifes no paladar da saudade para que os saibamos reconhecer quando voltar a ser tempo deles, e nessa altura, Ruben Patrick, havemos de dizer simplesmente que estávamos à espera deles, que não nos esquecemos de como sabiam, que os guardámos no paladar da saudade.

28 setembro 2012

Depois de uma semana a trabalhar as Classes C e D, Pipoco volta ao seu target

Sabes, Ruben Patrick?, bem sei que ele há ocasiões em que tenderás a alinhar o teu pensamento com o dela, em que quase concordarás com ela, resiste, Ruben Patrick, no dia em que, por cansaço ou por outro motivo qualquer concordares com ela vais perdê-la para sempre, a unica forma infalível de manter dedicada  a mulher que amas é dizer-lhe que não.


Resumo da semana blogosférica

É extremamante fofinho miúdas giras abraçarem polícias nas manifestações e todos nós sabemos desde pequeninos  porque raio não se podem abrir as janelas dos aviões e a casa dos segredos não sei quê e todos nós temos cães do canil e afinal não é assim tão fofinho miúdas giras abraçarem polícias nas manifestações e é espantoso chover no Outono e quem caralho será a Diana?

26 setembro 2012

So, you think you can blog?... (Capítulo segundo)

Temos então a linha do blog, será um diário, em que contaremos a nossa vidinha e, em escolhendo contar a nossa vidinha, contaremos apenas a parte das coisas boas, o Sporting ganhou o jogo, só eu é que trabalho lá no escritório (os dos blogs ou são artistas ou trabalham lá no escritório, fique sabendo), ele trouxe-me rosas ou exporemos o nosso lado lunar, procurando afecto e compreensão de quem lê, ele saiu com a minha melhor amiga, o único prazer que tenho na vida é deslaçar uns sapatos que comprei dois números abaixo do meu? Será um blog de roupas, daqueles em que pedimos a um desgraçado qualquer que nos tire fotografias com roupa improvável vestida ou será um blog em que exaltaremos a virtude do nosso mainovo (diz-se assim na linguagem dos blogs), que já fala, que já anda, que já lê e só tem quinze anos? Facilitando a vida, é para isso que cá estou, quando me perguntam qual deverá ser a linha editorial, recomendo a linha snob-chic, sinto-me sozinho neste ideal, as pessoas abanam a cabeça com ar pesaroso, olham-me como se mirassem o artífice  do inalcançável, e, conscientes das suas limitações, afirmam que não, que ser snob-chic lhes é impossível, que não há lugar para mais ninguém nesta linha, que enquanto este que vos escreve não se retirar será uma blasfémia ousar enveredar pela linha snob-chic. O meu conselho é que persitam, ensino-lhes que não é difícil, basta falar das coisas da cultura com desenvoltura, um snob-chic pode referir que esteve no concerto do Beatles da semana passada, basta-lhe dar informação adicional, que o Lennon (um snob-chic trata toda a gente pelo apelido) fez um dueto improvável com o Yeats e que no fim celebraram com um gole de Hennesys, é aqui que se vê a veia snob-chic, se referisse apenas o concerto dos Beatles não faltaria quem viesse referir na caixa de comentários que os Beatles já não existem, um snob-chic vai mais além, funde conhecimento e junta Lennon e Yates, vai ao pormenor de informar o que beberam, talvez introduza um elemento mundano, que Harrison e Travolta discutiram nos bastidores por causa de Monroe, e é toda esta panóplia de saberes que deixa a leitora confusa, que transforma a desconfiança inicial (os Beatles já não existem, quase aposto que ele não esteve no concerto dos Beatles na semana passada) numa admiração ilimitada (caramba, ele sabe o que Lennon e Yeats bebericaram), estabelecendo-se assim uma dinâmica saudável, que leva a gentil leitora a querer saber mais, a questionar o autor se sempre foi Travolta que acabou por sacar Monroe, resumindo, o segundo bom conselho desta afamada rubrica é "Escolha a linha snob-chic".

So, you think you can blog?... (capítulo primeiro)

Decidiu então ter um blog, muito bem, (som de palmas), excelente escolha, a minha recomendação é que escolha ser homem, é um nicho de mercado isto dos blogs de homem, bem sei, mas a coisa tende a ficar especializada, longe vão os tempos em que isto dos blogs era uma janela para a nossa vidinha e em que se falava de tudo, isso de tudo escancarado agora é no facebook, a verdade é que os homens têm mais saída, podem escrever o que lhes apetece e soar sempre bem, com jeitinho elas tendem a associar o que não perceberam bem a sentido de humor de alto calibre e isso do sentido de humor assenta sempre bem num homem, é isso e ler livros grandes e difíceis , sim, ainda o Ulysses, além disso, blogs de mulheres é o que há mais, se escolher ser homem o sucesso é muito mais meteórico e instantâneo e isso é que interessa, lembre-se de que o objectivo é receber amostras de shampoo para sortear entre as leitoras,  bastará que escrevam uma imbecilidade qualquer e façam like no seu facebook e no de trinta amigas e no da marca de shampoo, explore o factor "que raio fará um homem nisto dos blogs?", os homens estão sempre muito ocupados e a fazer coisas importantes, a comandar o mundo enquanto discutem se mandar o Elias para a bancada serve para espicaçá-lo ou, pelo contrário, vai perpetuar um meio campo Rinaudo-Schaars-André Martins, sim, também somos multifunções, conseguimos andar e mascar pastilha elástica ao mesmo tempo, além disso eles escrevem maravilhosamente e nunca ninguém disse de um homem que ele é um malfodido em calhando o homem deixar um comentário contra a corrente no seu post de mulher resolvida e que está sempre em modo "eu cá sou assim", resumindo o primeiro bom conselho desta afamada rubrica é "Escolha ser homem".

25 setembro 2012

So, you think you can blog?...

Pipoco, do alto do seu traquejo de cinquenta anos disto dos blogs, vai explicar a quem acaba de chegar a este admirável mundo o que tem que fazer para assegurar uma carreira fulgurante e depois receber muitas amostras de shampoo e fazer sorteios de pulseiras e ser citado pelas Pipocas todas e deixar-se fotografar-se com uma rodela na cabeça e a Póvoa de Santa Iria por detrás e mais coisas assim bonitas.

É de valor, não é? Assim apeteça a Pipoco e começa-se logo com a nova rubrica.

Ruben Patrick pergunta

Tio Pipoco, porquê ter Jack Russel quando se pode ter Jack Daniels?...

24 setembro 2012

Pipoco em modo extremamente indeciso

Vou ver o jogo da bola a Alvalade ou opto por ir ver o filme dos Morangos com Açucar, depois janto favas acompanhadas com sangria e a seguir dou um saltinho ao Bairro Alto e convivo com a rapaziada das litrosas e finalmente vou para casa com o rádio sintonizado na Rádio Popular?

Os problemas das mulheres

Confundir "Está muito bonita, esse vestido assenta-lhe perfeitamente" com "Gostaria de lhe saltar para cima, imediatamente".

22 setembro 2012

Que vês da tua janela, Pipoco?

Uns tipos que acreditam na coisa, a caminho da biblioteca do Convento de Mafra

21 setembro 2012

Porque raio simularão elas o orgasmo?

Será que acham que a rapaziada se importa?...

O leitor decide

Sai um post denso e de difícil entendimento, porque reflexivo e formalmente documentado, de Pipoco Mais Salgado sobre a acção do CONAR sobre bloggers brasileiras que faziam publicidade encapotada nos seus blogs ou sai um post curtinho e de fácil leitura de Ruben Patrick sobre a sua visão sobre o problema da propensão para a simulação do orgasmo feminino?

Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária

Estou aqui com os dedos a tremelicar para escrever sobre isso do CONAR e da problemática da publicidade encapotada nos blogues, mas as coisas são como são, tenho mil ideias para bons posts sobre o CONAR e quase nenhuma sobre o essencial da coisa.

Post das oito

A melhor forma de um homem pulverizar em mais de meio minuto o tempo que leva a correr dez quilómetros é ter um rottweiler sem coleira a correr a seu lado nos últimos três quilómetros, em verdade vos digo que parecia que vinha por bem, mas nunca fiando.

20 setembro 2012

Em verdade vos digo

Que elas são mais que nós nas universidades e que são mais organizadas e mais disciplinadas e mais inteligentes emocionalmente, isso é certo, mas a verdade é que um homem chega lá às mesas onde se senta quem manda e aquilo é um ror de camisas com botões de punho e quase nenhuma camisa com decote e isso maça-me, é desagradável.

A minha teoria para acabar com este estado de coisas é que as mulheres têm que acabar com isso da melhor amiga, isso é uma mania delas que as prejudica, elas orgulham-se da "melhor amiga" e é com a melhor amiga que desabafam que o malandro a fez sofrer, é com a melhor amiga que vão de férias, é com a melhor amiga que choram e é com a melhor amiga que se aconselham sobre carros (e acabam invariavelmente num Smart ou num Cinquecento, o que diz muito sobre a eficácia do aconselhamento).

Nós, sábios, aprendemos cedo que não há um melhor amigo para tudo, sabemos bem que há um melhor amigo para um gin tónico em final de dia, que não é necessariamente o mesmo melhor amigo com quem vamos esquiar, sabemos que não precisamos de melhor amigo para chorar mágoas, por definição a mágoa não nos assiste, percebemos cedo que o melhor amigo para uma prova de vinhos não é o melhor amigo para discutir se o Carrillo deve jogar mais perto do Wolfswinkel e é deste blend de melhores amigos para cada ocasião que nos refinamos, nos tornamos melhor pressoas, que a nossa rede de connections cresce e acaba por nos levar lá, onde elas mai-las suas melhores amigas à prova de tudo não chegam.

19 setembro 2012

18 setembro 2012

Hoje acordei assim

Talvez um dia eu desperte e aconteça que o rádio se tenha sintonizado numa dessas rádios regionais de discos pedidos, estatisticamente pode acontecer, imaginemos que tinha havido uma trovoada durante a noite e que a sintonia tinha entrado em modo aleatório, acabando por fixar-se na Rádio Voz de Aljustrel e que a dona Adozinda tinha dito a frase "Supermercado Garcia fruta fresca todo o dia" e que isso lhe tinha dado acesso à possibilidade de escolher uma música, que a dona Adozinda dedicaria exaustivamente à sua família chegada e ao primo João que está na França e à dona Aurora que partiu uma perna, talvez nesse dia, precisamente à hora que desperto, exactamente às seis horas e doze minutos, a dona Adozinda tenha escolhido Tony Carreira, podia ter escolhido Cecilia Bartoli mas optou por Tony Carreira, que as coisas são como são, imaginemos que a coisa se passava assim e que nesse dia eu descobria que afinal tenho muito em comum com o Tony Carreira, que os grandes amores se vão  e há sempre alguém que fica sozinho, a chorar por elas, em sofrimento, mas sempre a desejar-lhes o melhor do que a vida tem, sem rancores, não há uma única música de Tony Carreira que não verse a temática do indivíduo que está triste porque se deu o caso de ficar sozinho, mas tudo bem, que o outro lhe dê o que Tony não conseguiu dar, sem mágoa, às vezes lá acontece que o outro tipo também não era aquilo que se pensava mas Tony não vacila, se ela se foi a coisa é para sempre, com excepção daquelas em que nos conta o percurso de vida que teve que escolher e não se arrepende, que sonhou ser cantor e, lá está, é mesmo cantor, não é como eu, que sonho com Lamborghinis roxos mas continuo a conduzir carrinhas pretas.

Em verdade te digo, Ruben Patrick

Dizes-me então, Ruben Patrick, que ela nunca se abespinha e tem sempre a palavra certa para equilibrar uma discussão? Que sabe as precedências a observar num jantar e sabe sempre qual o copo certo para a água e qual o copo certo para o vinho branco? Que os homens viram a cabeça à sua passagem e admiram o andar seguro e a roupa de bom corte, sempre adequada ao momento? Que te fala da educação dos filhos que terão socorrendo-se dos livros escritos por sumidades em pedagogia e que tos quer fazer ler? Dizes-me então, Ruben Patrick, que ela é perfeita?

Livra-te dela enquanto podes, meu rapaz

17 setembro 2012

Também podia ser a história da minha vida (há tanto tempo que não prantava aqui retratos...)


Que isto podia muito bem ser o resumo da minha vida

Pipoco, o que fez sempre tudo ao contrário e resultou bem.

Talvez a psicologia explique, nunca o saberei

Mas sempre gostava que me explicassem porque marco sempre com um cartão de embarque as páginas do livro que estou a ler, que me explicassem porque continuo a ir ao cinema ver os filmes com o único critério de ser o próximo a começar, gostava que em explicassem porque me dá tanto gozo ter perdido um livro que não era meu no Museu d'Orsay, gostava que me explicassem porque continuo a ir a Alvalade e acreditar que este ano é que é, gostava que me explicassem porque continuo a subir as defesas ao nível máximo sempre que privo com mulheres com carros sujos por dentro, gostava que me explicassem porque continua a divertir-me isto dos blogs.

16 setembro 2012

Resultados de bola que realmente interessam

O Atlético de Reguengos despachou o Grijó da Taça de Portugal.

13 setembro 2012

Em verdade vos digo

Há uma passagem em "Os Maias", quando Carlos da Maia, em pleno Chiado, espanca com umas bengaladas valentes o seu primo Basílio , acabadinho de regressar de Tormes, tudo por causa de umas dívidas de jogo em casa do Conde de Abranhos. Nessa passagem as mulheres tomam o partido de Basílio, que está no chão a esvair-se em sangue, condenando publicamente Carlos da Maia mas, ao mesmo tempo cochichando umas com as outras admirando-o secretamente pela virilidade das suas bengaladas, desferidas em defesa da sua honra, ao tempo um meio perfeitamente legítimo para umas bengaladas públicas.

É por isso que nunca perceberemos as mulheres, que nunca entenderemos as suas mensagens subliminares e o que querem dizer nas entrelinhas. Afinal é por isto que não conseguimos passar sem elas...

Os problemas das mulheres

Ficarem desconcertadas e sem referências de navegação quando lhes damos plena razão numa discussão logo ao primeiro argumento que elas nos apresentam.

12 setembro 2012

Se o meu mundo fosse em "Cristianoronaldo mode"

Vinha o tipo das finanças e eu ficava com menos liquidez, depois eu fazia um negócio dos grandes, daqueles em bom, e em vez de dizer "YES! Conseguimos, somos enormes" e a seguir pagar whisky de malte à equipa, não comemorava, depois a Rita das fotocópias perguntava-me porque é que eu não estava a comemorar em condições e eu respondia-lhe que a minha vida era muito triste e quem não tinha carinho nenhum, depois vinha quem manda nisto e dava-me mimos e aumentava-me o ordenado para compensar o que o tipo das finanças me tinha levado e ainda me contratava até ao fim dos meus dias e eu ficava contente outra vez e já podia comemorar e condições com a rapaziada e havíamos de ir beber um whisky de malte, pagava eu.

11 setembro 2012

Caro Pedro

O meu caro não me terá reconhecido mas eu apresento-me, sou o Pipoco Mais Salgado e faço parte dos cada vez menos que estão a aguentar as pontas disto, não me agradeça, levante-se homem, por favor, temos que ser uns para os outros, não se desculpe, é normal não me ter reconhecido, sim estou mais magro, eu percebo, isto é muita gente e às tantas alguém como o meu caro baralha-se com tanta informação, é da sua natureza.

Saiba o meu caro que eu por cá continuo, sentado à mesa, bebendo um tinto de um ano cá do meu gosto, no final talvez acenda um Cohiba, ainda guardo alguns para o que der e vier. Não pense o meu caro que eu não tenho notado, lá por estar aqui em sossego e com o meu melhor ar de quem está a pensar nas coisas da filosofia e dos discos, não quer dizer que não esteja a interiorizar o que se está a passar, é só uma questão de processar informação e sistematizá-la, sou razoavelmente bom nisso, afinal é a minha vida, ainda é a minha vida.

Saiba o meu caro que cada vez há menos como eu a esta mesa, vão saindo de mansinho, fazem de conta que vão só lá fora fumar um cigarro e acabam por não voltar e eu, que estou habituado a estas coisas, sei que sou eu quem vai pagar a conta de todos, as coisas são como são e o meu caro, que é o dono do restaurante, aliás, tem a concessão, tem que ter as contas a bater certo, o meu caro fica descansado porque sabe que não há problema, eu estou cá para segurar as pontas, não sei se já lhe tinha dito, pode muito bem o meu caro meter como cozinheiro do restaurante aquele seu primo que é muito bom moço, que importa se já há três cozinheiros?, o rapaz merece e é lá da sua criação, e afinal eu pago tudo, a minha vida é isso, pode o meu caro não se preocupar se me servem o que eu estou a pagar, não importa se o chefe de mesa está de olhos na televisão e eu estou a fazer sinal que pode servir os cafés, afinal está a dar a bola e que é isso comparado com eu querer ser servido na justa medida do que pago?, pode o meu caro não se incomodar sobre se não será melhor fazer obras no restaurante, mudar a ementa, sei lá, alguma coisa que faça voltar os que podem pagar, sempre dividíamos a conta por todos e não ficava só eu para pagar tudo, não se mace o meu caro, afinal eu por cá continuo, o meu caro sabe que eu estou cá para pagar e que é só dizer que a conta voltou a subir, as coisas são como são, eu assentirei, que sim, que pode descontar o que tiver que ser.

O problema, meu caro Pedro, são os que foram saindo por já não poderem pagar. Esses estão lá fora e não estão muito contentes, se é que o meu caro me entende. E esses estão a caminho, zangados e com vontade de lhe partir o restaurante, depois as coisas são como são, vão virar-lhe isto tudo do avesso, em calhando ainda são capazes de causar transtorno ao meu caro, às vezes as pessoas organizam-se e é uma maçada, lembre-se daquilo de vestir de branco por causa de Timor ou das bandeiras na janela porque o Scolari pediu, às vezes as pessoas são estranhas e fazem coisas estranhas, principalmente se não tiverem o que dar de comer aos filhos ou se a noite estiver mais frescota ou se o Benfica desatar a perder jogos uns atrás dos outros. Está o meu caro avisado, mesmo podendo sempre contar comigo para pagar o que o meu caro entender, pondere lá isso de os que já sairam da mesa se poderem aborrecer, que isto em as pessoas se aborrecendo às vezes é o cabo dos trabalhos.

Sempre seu, Pipoco Mais Salgado (não me agradeça, que é isso, então? levante-se, não gosto de o ver assim ajoelhado à minha frente)

07 setembro 2012

Manobra de diversão

Há uma cena no Le Havre, do Aki Kaurismäki, em que o inspector de polícia entra no bar do porto, uma coisa de má fama, com marinheiros a olhar de viés e o inspector tem um ananás nos braços, um enorme ananás que atrai os olhares dos tipos mal-encarados e os desvia da figura do inspector, nunca um ananás pareceu tão deslocado num cenário.

Sobre aquilo da Clara Ferreira Alves, que as mulheres são umas tontas e não sei quê

Andava a blogosfera, principamente a que tem maior desvio relativamente ao peso apropriado à altura, a bater na Margarida Rebelo Pinto e estava eu , e só eu, a ler o que escreveu a Clara Ferreira Alves. E escrevia a Clara em título, dirigindo-se a mim, isto acredito eu, "Tu queres é uma palmadas", lá está, mais um artigo a desancar na pobrezinha da velhota que escreveu aquilo do Grey e dizia a Clara que "Meio mundo (incuindo eu (e este "eu" é ela, a Clara, sempre gostei de parêntesis dentro de parêntesis)) escreveu a dar cabo de E.L.James...", acho isto delicioso, a Clara começa por desdenhar a temática mas, e isto é notável, ao mesmo tempo lamenta "Só posso dizer que tenho pena de nunca me ter ocorrido escrever coisas destas em vez de labutar em textos que nunca mencionam a palavra vagina". Traduzindo, a boa da Clara desejava o filet mignon da coisa, o sucesso e os dólares, mas sem o dirty job, cuidava a Clara que podia escrever sobre coisas sérias e de bom tom e ter três best-seller de rajada. E continua a Clara a malhar no tema, invocando a favor do que articula que o livro é o favorito da Victoria Beckham, piscando-nos o olho, uma espécie de "if you know what I mean", um corolário só ao alcance de quem domina todo o processo e sabe estabelecer uma causa efeito entre livro favorito da Beckham e má literatura.

Mas afinal, e para acabar, que se me está a acabar a bateria e já chamaram para a porta de embarque, o que a Clara quer mesmo é dar uma palmadas nas mulheres que compram livros, invocando que a lista do top 10 do "NY Times", sim que a Clara não quer saber da lista da Bertrand, está cheia de autoras mulheres e todas elas escrevem tão mal como a do Grey e quem lê são mulheres e por isso as mulheres são culpadas deste estado de coisas porque são umas tontas que compram livros de palmadas e dá-se o caso de quem dá as palmadas são os homens e isso é um sinal da subjugação e eu, que não percebo nada de mulheres e dá-se o caso de cada vez perceber menos, acho que é por causa das Claras Ferreira Alves deste mundo que as mulheres, apesar de sorrirem muito umas para as outras e irem aos pares à casa de banho, nunca serão solidárias.

06 setembro 2012

Les jeux sont faits

Fechados os comentários para a coisa ali de baixo, as coisas são como são.

Falamos então da crónica da Clara Ferreira Alves? Vamos a isso?

Pipoco também quer dissertar acerca de rapazes com queixos esfacelados (ou isto não só primas Joaquinas)

Já se sabe que para os artistas, aqueles que aparecem nas novelas das oito, se quiserem ser jurados em programas de miudagem a cantar, convém-lhes, uns meses antes, abrir as portas de sua casa e mostrar a sala de estar com uma estante branca com eniclopédias em fundo cuidadosamente alinhadas, será mesmo de bom tom que estejam a passar por um processo especialmente violento de divórcio litigioso, uma coisa em bom, bem documentada pela imprensa especializada, eventualmente que, ao mesmo tempo que acontece o tal divórcio violento, se apaixonem por um personagem improvável, a Luisa Beirão pelo Herman José, a Diana Chaves pelo Castelo Branco, a Cláudia Vieira pelo  Eusébio e todas pelo  Pinto da Costa, faz parte do circo e todos sabem as regras do jogo, é claro que ele há alturas em que a coisa perde o controlo, é como ter a sogra a viver lá em casa, sempre toma conta dos miúdos e prepara o jantar, mas há um dia em que aparecem uns naperons manufacturados em cima da televisão e um homem engole em seco, afinal a sogra faz um empadão de mirtilhos com caramelo que é coisa fina, só que a sogra, incentivada pelo silêncio e consciente do poder que tem, vai subindo na hierarquia da casa e um dia damos por ela a dizer que as coisas são como são e são como ele acha que devem ser, o que é sempre uma maçada, parecendo que não. De qualquer forma, nisto dos artistas a coisa é gerida por profissionais e os danos são quase sempre bem calculados (excepto aquela que não me lembro o nome e que rebentou com a casa) e os ganhos compensam as maçadas ou então não.

Nos blogs devia ser diferente, em princípio a coisa não nos paga o sustento, isto são só blogs, nunca perder este facto de vista, e servem para um homem se entreter quando o tempo lhe sobra, não deveria ser como nas telenovelas. No entanto, em se começando a ter anúncios a piscar ali à direita e em se começando a escrever que o Dacia é um automóvel que é uma maravilha ou que o Freeport é um sítio bom para se comprar coisas em geral, o blogger ganha uma espécie de aura, como se tivesse caído em pequenino no caldeirão da intocabilidade e acredita que impossible is nothing, que só existe o infinito e mais além,  as caixas de comentários transformam-se em chorrilhos de coisas bonitas, que a criancinha é linda e nós a ver que não, que a pessoa é tão feliz e nós a perceber que se fosse feliz não escrevia em blogs, passava o tempo a usufruir da felicidade, nessa altura, dizia eu, quem escreve nesses blogs começa a tratar os leitores como visitas lá de casa, são uma espécie de prima Joaquina que mora lá na terra e a quem desejamos mostrar os dentes do mais novo, o risco que um malandro nos fez no carro, o salmão com doce de gila que não há lá na terra, a prima Joaquina há-de lamber-se toda e, como é claro, as primas Joaquinas fazem o que é suposto as primas Joaquinas fazerem, que sim senhores, que lindo está o miúdo, que saboroso deve estar o salmão, que rica vida tens tu, vê-se logo que tens estudos, e tudo fica na paz do senhor, quem escreve abre cada vez mais o coração e mostra o detalhe das obras lá do prédio, diz para onde vai de férias e mostra que tal está o tempo, as primas Joaquinas abrem a boca de espanto e mostram respeito e escrevem coisas profundas na caixa de comentários ("lol, que giro", "as melhoras", "já me senti assim", "nunca me atrevi a comentar mas é só para lhe dizer que é uma grande mulher", "também quero um igual"), entremeia-se a coisa com uns anúncios a cremes que diz que são muito bons para as bexigas, acredita-se que as primas Joaquinas compram aquilo e tudo fica na paz do Senhor.

O problema é que isto dos blogs é um espaço aberto e ele há ocasiões em que não é só a prima Joaquina que lê aquilo e, se há alturas em que nos exasperamos com quem escreve (pelo menos comigo as pessoas exasperam-se todos os dias e isso é delicioso), há dias em que nos rimos porque o tipo escreve mesmo bem, há outros dias em que olhamos para aquilo, nem queremos acreditar que seja verdade, há dias em que fechamos os olhos piedosamente, levantamos os braços aos céus e sentimos a pior das vergonhas, a vergonha alheia.

O leitor decide

No post das duas da tarde, dará Pipoco a sua opinião sobre o caso Cocó na Fralda, emitindo uma opinião definitiva sobre o que pensa de retratos de filhos com queixos esfacelados, arruinando para sempre o seu estatuto incontestável de snob-chic ou escreverá Pipoco sobre o sentimento que lhe suscita a nona de Beethoven?

Sim, estive na exposição que está na Fábrica ASA

Gostava muito de ter um social airbag, uma coisa que se insuflasse nos jantares de ostras e champanhe, em se acercando as pessoas de mim, o social airbag era imediatamente accionado e garantia espaço vital.

05 setembro 2012

Remember "Sócio, estou concentradíssimo..."

Porque lês tu blogues, Pipoco?

Para aprender como é possível um homem vestir-se dos pés à cabeça por vinte contos, para saber se o tal paper final sempre foi entregue, para me inteirar de quando o irmão do Zé vai cair (acidentalmente, é claro...) pelas escadas lá do prédio abaixo, para me congratular por verificar que os pés na praia foram substituídos pelas bolas de Berlim na mão, para saber tudo o que há para saber sobre pequenos-almoços de pura fibra, para saber para que é que lhe deu hoje e verificar que lhe dá sempre para o mesmo e isso não é necessariamente bom, para ver em pormenor que tal fica a gandulagem com as fuças partidas,  para me inteirar que toda a gente dos blogs continua a ser bailarina ou criativa ou jornalista e, naturalmente, para ler o Tolan, o Maradona e o Zé do "Vendo-me".

Dupont & Dupond


Ruben Patrick reflecte

O Tio Pipoco é um indívuduo que reflecte sobre temáticas lá dele, os vinhos, os charutos, os livros e aquelas músicas que ele ouve e, sendo pouco ousado na abertura do espectro de interesses, acaba por descurar questões importantes, acaba por não abordar aquilo que verdadeiramente preocupa as pessoas, não estuda com profundidade a essência das problemáticas, por exemplo não se debruça sobre a integral de José Cid, nunca se incomodou em estudar a questão essencial que está por detrás da estrofe "A Anita não é bonita mas acredita que a noite cai".

Temos aqui um exemplo épico de como as pessoas, não tendo realçada uma qualidade essencial (no caso da Anita, a beleza), não será caso para as ignorarmos e as retirarmos do grupo de indivíduos válidos na sociedade. A Anita não é bonita, mas, lá está, a Anita assume uma condição superior, a de pertencer ao número de pessoas que acredita que a noite cai, o que lhe confere uma dimensão superior na escala das pessoas que, não sendo bonitas, são ainda assim válidas para o seu próximo, de tal forma que esta Anita chega mesmo a captar a atenção do Zé, Poderia o autor invocar outros atributos válidos de Anita, por exemplo "A Anita não é bonita, mas gosta de mousse de morango com mostarda de Dijon" ou mesmo "A Anita não é bonita, mas tem uma camisola do Rui Patrício autografada pelo próprio" e de igual forma relevaria que não é por causa da beleza que a pessoa perde a sua dignidade, há que ver mais longe, há que saber que o essencial é invisível para a vista, como diria o Principezinho, que, lá está, não era bonito mas falava com raposas, isto para além de o Zé, em chegando ao Café Central e enfrentando os amigos que, jocosos, desedenhariam da sua capacidade de conquista, atirando-lhe, em risada alta, "Olha lá, Zé, a Anita, não é bonita!", ao que Zé, reflexivo, tolerante, ponderado, dotado da calma concedida aos que conseguem ver mais além, lhe retorquiria "É certo, mas atentai, rapazes, ela acredita que a noite cai", ao que se seguiria um silêncio pesado, em que os rapazes, meio envergonhados por não terem sido capazes de vislumbrar o evidente, assentariam "Bem visto, sim senhores", enquanto pagariam uma mini Super-Bock ao Zé, que coçaria o seu queixo, pensativo, é assim que fazem os sábios.

04 setembro 2012

Relendo o Amor em Tempos de Cólera

Ninguém espera cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias por alguém.

Só mesmo num livro.

Ruben Patrick pergunta

Tio Pipoco, nunca comeu a Mónica Cintra em Sintra, certo?...

Pipoco também tem um "Eu já..."

Eu já comi pastéis de Belém em Belém, já bebi vinho do Porto no Porto, já comi leitão de Negrais em Negrais, já comi feijoada à trasmontana em Trás-os-Montes, já bebi vinho de Bordéus em Bordéus, já comi pimentos de Padrón em Padrón, já bebi champagne na região de Champagne, já comi cozido à Portuguesa em Portugal, já comi lulas à sevilhana em Sevilha, já comi picanha brasileira no Brasil, já comi queijo de Nisa em Nisa e de Azeitão em Azeitão, já bebi água Evian em Evian, água do Luso no Luso, água do Caramulo no Caramulo e água Serra da Estrela na Serra da Estrela.

03 setembro 2012

Em verdade vos digo

E falando ainda desse tal pior filme de sempre do Woody Allen, mesmo considerando que visualizei o Midnight in Paris, há uma altura em que o Woody Allen consegue sacar a Julia Roberts, que é uma coisa que está sempre a acontecer, as Julias Robert costumam interessar-se por Woody Allens, as mulheres bonitas têm um sacrossanto dom de preservação da espécie que as faz interessar-se por tipos com óculos, é a mesma coisa com tipos que escrevem em blogs, basta-lhes um certo ar distante e uma vaga referência a livros e a coisas que as mulheres apreciam, música sacra, por exemplo, e é vê-las com o seu pequeno coração a palpitar, mas, dizia eu, nessa película aziaga o Woody Allen consegue que a Julia Roberts lhe conceda os seus favores porque faz exactamente aquilo que o Julia gostaria que um homem fizesse, não vou aqui contar que o Woody tem acesso à informação porque a sua filha espreita a Julia no psicólogo através de um furo na parede e assim acede a informação vital, a Julia gosta de homens que apreciem Mahler?, pois o bom do Woody torna-se o apreciador número um de Mahler, a Julia aprecia Tintoretto?, pois o bom do Woody devora toda a literatura Tintoretteana, mas a moral da história, era aqui que eu queria chegar, é que não é coisa boa um homem mudar-se por causa de uma mulher, vão por mim que sei destas coisas, tivesse o Woody perguntado a minha opinião e não sofreria por a Julia o ter despachado em três tempos.

Em calhando é por isso que este é um blog feliz

Há ali uma cena, algures no pior filme de sempre do Woody Allen, em que o avô morre e a família desfia os clichets todos, que é aproveitar a vida enquanto cá andamos, que isto nunca se sabe, um dia estamos a vender saúde e no dia seguinte dá-nos um enfarte do miocárdio que nos leva desta para melhor, que de nada vale poupar os tostões, afinal a vida são dois dias, que ninguém sabe para o que está guardado, há essa tal cena, dizia eu, que é a minha cena preferida do filme porque eu lembro-me todos os dias desses clichets todos sem ser preciso morrer-me ninguém.

02 setembro 2012

Voltamos então ao normal, aos posts só de letras

De volta a isto da vida tal como ela é, sorriso aberto por amanhã ser dia de trabalho, igualzinho ao sorriso aberto de hoje por ser dia de férias, dou uma leitura rápida pelas notícias atrasadas e demoro-me na minha lista de blogs, quero perceber o que fizeram nestes meus dias de montanhas e de Guimarães, se escreveram coisas em condições ou nem por isso, das notícias do país e do mundo retenho que o Sporting ganhou por cinco a não sei quem, pelo que depreendo que está tudo nos conformes e que as coisas continuam a ser como são.